O Flamengo virou fantasma de si mesmo. E a culpa vem de dentro
Há quem procure fatores externos para justificar a queda atual do Flamengo. De preferência, que a culpa recaia sobre a imprensa. Se for de outro Estado, então, encaixa como uma luva. Enfim, o velho argumento de que existem inimigos à espreita, prontos para esfregar as mãos ao menor sinal de fiasco. E os dos rubro-negros, em pouco mais de três meses em 2023, foram quatro (ou cinco, se incluída a primeira parte do Campeonato Carioca).
A origem do problema, porém, é interna. A mesma cartolagem que teve tato para montar o time que, quatro anos atrás, jogou o fino da bola, agora é responsável pelo desmanche. Por uma sucessão de trapalhadas. Elas começaram quando Jorge Jesus abandonou o barco, em 2020, após meses de enrolação. Recorreu-se ao obscuro Domenec Torrent, que veio com o currículo de ter sido auxiliar de Guardiola. Mal esquentou banco e foi obrigado a pegar o boné.
A confusão não parou por aí. Veio Rogério Ceni, que conquistou algumas taças, sem convencer a cúpula do clube. Saiu para dar lugar a Renato Gaúcho, que se segurou até a final da CONMEBOL Libertadores de 2021. Foi a vez, então, de Paulo Sousa, outro que não agradou e foi despejado rapidinho. O rojão sobrou para Dorival Júnior, campeão da Libertadores e da Copa do Brasil. Foi o suficiente para perder o cargo.
A aposta mais recente recaiu sobre Vítor Pereira, o técnico que usou a saúde da sogra como um dos motivos para não continuar no Corinthians, ao término do contrato. O português foi atraído pela perspectiva de encher-se de taças em pouco tempo. Em vez disso, encheu a torcida com uma sequência de decepções.
A mais recente veio na noite deste domingo (9), com a surra impiedosa tomada do Fluminense, na finalíssima do Estadual. A vantagem de 2 a 0 obtida uma semana atrás virou poeira antes do intervalo, porque o rival também fez 2 a 0 (Marcelo aos 27, Cano aos 31 minutos). A humilhação veio na segunda etapa, com outros dois gols (Canos aos 10, Aleksander aos 19). Ayrton Lucas fez aos 50.
Há o mérito imenso do Fluminense de Fernando Diniz, com um futebol intenso e admirável. Os campeões jogaram o fino. Não se tira um pingo do mérito pela taça. Quem fizer isso será perverso, maldoso e parcial. O Flu merece considerações e posts à parte - e os receberá. Sua atuação afundou o Flamengo na crise.
Ou melhor, o Flamengo buscou esse momento absurdo, com as escolhas equivocadas e sem “timing” da diretoria. VP não deu liga nem sei se dará. (No momento em que escrevo, nem sei se foram abertos os vestiários.) Ele chegou com rejeição de parte da torcida - e até hoje não está transparente a relação com o elenco. Não afirmo que tenha boicote, porque seria leviano. Mas não se vê um grupo de jogadores descontraídos, soltos, sorridentes.
O treinador mostrou intenção de mexer em alguns intocáveis e responsáveis por ocasiões de glória. Aos poucos faz as mudanças, sem que os resultados apareçam. Isso reforça a oposição contra ele e aumenta as dúvidas em torno de sua capacidade de manter o Flamengo em alto nível de competitividade.
Concordo que tem gente famosa jogando muito abaixo do que já mostrou. Isso seria por incompetência na preparação? Porque há necessidade de mudanças no elenco? Tem gente que já passou do ponto? São muitas as interrogações.
Não sei se VP terá tempo para dar a volta por cima. O que se vê, por ora, é um Flamengo fantasma de si mesmo.
O Flamengo virou fantasma de si mesmo. E a culpa vem de dentro
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