Nápoles é terra de exageros e contrastes. Parece o Brasil mais do que imaginamos
A festa dos napolitanos invadiu a madrugada, deve arrastar-se por tempo indeterminado, e a alegria vai misturar-se com estragos. Disso não duvido. Exagero justificado e coerente. Em primeiro lugar, porque foram 33 anos de espera, depois dos dois títulos conquistados sob a batuta de Maradona. Em segundo lugar, e não menos importante, porque o napolitano é naturalmente exagerado, está no sangue, no modo de viver, na rotina do dia a dia. Não há na Itália lugar que se compare a Nápoles.
A principal cidade da Campânia (acho horrível a tradução “Campanha”) é um “país” à parte dentro da Itália. Lá os fatos ganham outra dimensão - sejam os positivos quanto os negativos. Não é por acaso que o personagem “Veronica”, uma operária criada pela atriz Rosalia Porcaro, respondia com espanto quando lhe falavam que Nápoles era também parte da Itália: “Mas os italianos sabem disso?!”
A ironia e insubordinação fazem parte do cotidiano, da história e da alma napolitanas. Isso explica por que aquela região revelou para o mundo o filósofo Giordano Bruno, morto pela Inquisição em 1600. Por que teve o camponês Masaniello como líder de revolta em 1647 contra os dominadores espanhóis (foi morto). Por que o personagem “Pulcinella” (um palhaço com nariz grande máscara a cobrir os olhos) resume a alma popular.
Nápoles também teve o inigualável Totó, maior cômico italiano. Ou a família De Filippo, maravilhosos atores e autores de teatro. E teve também Massimo Troisi (aquele de “O carteiro e o poeta”). Sophia Loren é napolitana, como o tenor Caruso, imortalizado numa música de Lucio Dalla. Os músicos Pino Daniele e Roberto Murolo são de Nápoles. A música napolitana é aquela mais conhecida no mundo. (O Sole Mio; Funiculi, Funiculá; Torna a Surriento, quem não conhece?)
Nápoles é a terra da pizza, do espaguete al sugo, da mozzarella de búfala.
Mas Nápoles não é só isso, nem a cidade que tem o vulcão Vesúvio como protetor e ameaça. (Jamais deixou de soltar suas fumaças…)
Nápoles é também terra que teve nobreza e riqueza, e há muito convive com pobreza, desemprego, falta de moradias, imigração. (Centenas de milhares de napolitanos, ao longo do Século 20, imigraram para todos os continentes.)
Nápoles é terra de músicas lindas, de gastronomia farta. Lá se cultua San Gennaro e se teme a Camorra, a máfia local. O trânsito é caótico, a arte de se virar está no espírito do napolitano. Há solidariedade e há tapeação. Há calor humano e há corrupção. Nápoles não é só Sol e folclore; é incerteza e tristeza.
Nápoles de fato é um país à parte dentro da Itália. Nápoles é muito mais Brasil do que pode supor quem não a conhece.
É preciso dizer mais para entender por que o “scudetto” é tão necessário para essa gente?
Nápoles é terra de exageros e contrastes. Parece o Brasil mais do que imaginamos
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