Boca x River: uma final para além do planeta
Fiquei pensando no que representa Boca e River se enfrentando na decisão da Libertadores. Tive que recorrer aos extraterrestres. Se um ET me mandasse agora um whatsapp dizendo que tem apenas duas horas na Terra e gostaria de voltar para o planeta Marduk com o máximo de experiência da existência humana, eu o levaria à Bombonera, dia 10, ou ao Monumental, dia 24, ou aos dois, dependendo da disponibilidade de ingresso e da agenda do alienígena. Nem Torre Eiffel, nem Nova York, nem Havaí, nem monte Fuji, balé Bolshoi, Ganges ou Sapucaí. Vamos ver futebol, criatura!
O futebol é a atividade global que mais mexe com as pessoas, seja no Gabão, em Medellín ou Istambul. É o assunto fora das necessidades básicas (tipo comer, respirar, etc) que mais penetra a vida cotidiana, oxigenando relações, pautando contatos, definindo humores. O máximo da expressão do futebol na Terra será esse confronto entre Boca e River. Ouso dizer que Real e Barça ficam atrás, porque a Espanha não é a Argentina, o flamenco não é o tango. O samba tampouco. O tango é a expressão mais pura do sentimento rasgado, da pieguice atômica, da emoção que não cabe dentro do próprio corpo, enfim, dessa espécie de homo sapiens chamada ser humano argentino, que eu amo. No Brasil, o que mais se aproxima de Boca x River é o Grenal, um cheirinho e só.
Poderíamos pensar em uma final de Copa entre Brasil e Argentina. Ou de Champions entre Barça e Real. É o que chegaria mais perto. Mas nunca aconteceu. E Boca x River vai acontecer. Tudo bem se você discordar de mim, achar que o derby de Campinas ou de São Paulo, ou Cruzeiro x Atlético, ou Remo x Paysandu, forem maiores que o Superclássico. Aliás, se você não achar isso, vou desconfiar da sua paixão... Mas aqui estamos olhando de um ponto de vista, digamos, mais amplo.
Nem precisaria, mas há ingredientes calóricos nesse vulcão que explodirá em breve. O presidente da Argentina, Maurício Marci, é ex-presidente do Boca. O país vive uma crise danada – e aí, somos solidários e também estamos mergulhados na nossa –, e o confronto entre seus dois mundos, os millonarios e os xeneizes, deve absorver tudo isso. Do contrário, não seria futebol.
A final é tratada como questão de estado. Governo nacional e da capital se mobilizam para organizar a coisa. E decidiram que haverá espaço para a torcida adversária nos dois jogos, coisa que não acontece desde 2014. Quatro mil lugares, segundo divulgado. Macri trata como oportunidade única para mostrar que é possível conciliar futebol e civilidade. Vem construindo um discurso de paz, ao mesmo tempo em que monta um esquema de segurança jamais visto no país para viabilizar dois jogos de futebol. “Não voltemos a percorrer caminhos de violência que não somam para a sociedade argentina”, disse Macri.
A Argentina está parada, não se fala em outra coisa a não ser na final inédita. A ansiedade pelo confronto é proporcional ao medo de tragédia. Ou você tem certeza de que as autoridades vão controlar os barrabravas? Não dá pra saber. Mas que o ET nunca mais será o mesmo, isso eu tenho certeza.
Fonte: Maurício Barros
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