Muitos são-paulinos, eufóricos com a presença
de seu time nas semifinais de dois importantes torneios, estão me chamando de
clubista porque eu disse no Linha de Passe que o São Paulo é o mais fraco dos quatro sobreviventes na Copa do Brasil. Estão dizendo que sou corintiano e flamenguista,
o que não é verdade, eu juro. Vou mostrar aqui meus argumentos e explicar melhor por que
acho o São Paulo o favorito para ganhar a Copa Sul-Americana e o menos forte dos
times envolvidos ainda no maior mata-mata nacional. No fim, deixarei mais claro ainda outra coisa.
Primeiro, vamos ver a tabela do Campeonato Brasileiro. Após 22 rodadas, o Flamengo é o vice-líder e está em grande momento
com Dorival Júnior, com muitas de suas estrelas jogando em alto nível,
inclusive Pedro, que deve ir para a Copa do Mundo. O Corinthians tem os mesmos
39 pontos do Flamengo e ocupa a terceira colocação, renasceu no torneio após
conseguir uma virada incontestável (com goleada) sobre o Atlético-GO, semifinalista
da Copa Sul-Americana. O Fluminense tem apenas um ponto a menos do que Flamengo
e Corinthians e fecha o G4, tendo produzido nos últimos meses um futebol vistoso
muito pelas mãos de Fernando Diniz e dos pés do Ganso, figuras que o são-paulino
conhece bem. O sofrido e apaixonado torcedor são-paulino, que tem dado show e
demonstração de apoio no Morumbi e fora de casa, pode dizer e se orgulhar que
eliminou da Copa do Brasil o líder do Brasileiro, o rival Palmeiras, mas isso
não dá garantia nenhuma de que vai deixar para trás agora os outros três times
do G4.
Vamos falar agora de finanças e elenco. O
Flamengo sobra na turma, aliás esbanja craques e boa saúde financeira, tanto
que agora cogita até fazer um estádio com capacidade para mais de 100 mil
pessoas. Esse momento de solidez rubro-negra o coloca como grande favorito na
Copa do Brasil. Venceu os últimos quatro jogos que disputou contra o São Paulo até
com certa tranquilidade (5 a 1, 4 a 0, 3 a 1 e, mais recentemente, um 2 a 0 no
Morumbi preservando alguns titulares). Se historicamente o Tricolor do Morumbi
leva boa vantagem sobre o Flamengo, o momento pesa muito a favor do clube
carioca. No Maracanã ou no Morumbi, é o mais cotado para vencer na atual
conjuntura.
O Corinthians possui, sim, problemas
financeiros como o São Paulo, ainda tem um estádio para pagar (embora, após acordo,
isso seja feito em muitas prestações camaradas), mas investiu nos últimos meses
em vários jogadores de bom nível e em um técnico estrangeiro com bom currículo.
Por ter trazido nomes como Renato Augusto, Roger Guedes, Willian, Paulinho e
Giuliano, o clube alvinegro inspirou Rogério Ceni e Muricy Ramalho a cobrarem
da diretoria tricolor a contratação de reforços, caso contrário o time brigaria
contra o rebaixamento mais uma vez (aliás não passei a classificação do
Tricolor no Brasileiro: 11º lugar, nove pontos atrás do G4 e seis acima da zona
da degola). O Corinthians tem ainda o seu melhor goleiro da história, Cássio, e
outros jogadores históricos do clube, como Fagner e Gil. Trouxe mais recentemente
Yuri Alberto, que demorou a desencantar mas que já fez o seu tradicional
hat-trick. O Corinthians não venceu ainda o São Paulo nesta década, isso é verdade,
mas o Tricolor ainda não sabe o que é ganhar uma partida em Itaquera ainda.
O Fluminense tem uma ótima espinha dorsal em
seu time, com o experiente goleiro Fábio (os são-paulinos pouco confiam em seus
arqueiros, nenhum deles chegou para ser titular), com o zagueiro Nino, com o
volante André, com o meia Ganso e com o atacante Cano, que tem feito muito mais
gols do que Calleri. Assim como o São Paulo, o Tricolor das Laranjeiras vive
muito nos últimos anos de sua base, que exporta bons jogadores e mantém o clube
vivo financeiramente. Se não nada em dinheiro, parece que o Flu não está em “colapso
financeiro”, como Rogério Ceni descreveu administrativamente seu clube. Em um confronto
recente no Morumbi, vimos um bom empate em 2 a 2, com Fernando Diniz cobrando
seu time por ter perdido dois pontos fora de casa, prova da ambição da equipe
carioca e especialmente de seu treinador diferenciado (para os padrões
brasileiros). O Fluminense talvez não tenha um elenco melhor do que o São Paulo,
porém seu desempenho em campo tem sido bem superior. A equipe de Rogério Ceni oscila
mais e tem avançado nas copas com sofrimento, às vezes nas disputas de pênalti
(casos de Ceará e Palmeiras), e às vezes com o time levando sufoco no fim, como
foi contra o América-MG, sobretudo após a expulsão de Miranda.
Os técnicos Rogério Ceni e Dorival Junior
Rubens Chiri/saopaulofc.net | Ricardo Mo
Agora, é hora de analisar o calendário.
Flamengo e São Paulo ainda estão em duas copas, mas o elenco rubro-negro tira
isso de letra, uma vez que possui um time reserva melhor do que muitos outras equipes
da Série A, inclusive o Tricolor do Morumbi. O Fluminense e o Corinthians estão
muito focados na Copa do Brasil, devem poupar jogadores no Brasileiro para concentrar
forças no mata-mata nacional. Enquanto isso, o São Paulo estará dividido com a
Copa Sudamericana, competição que tem reais chances de ser campeão mais uma vez
(venceu o torneio em 2012, uma rara conquista do clube desde a última era dourada
em 2008). O departamento médico do São
Paulo, onde estará ainda por um bom tempo Arboleda, costuma ficar cheio, e a
maratona de jogos do clube só tende a complicar mais a situação. A equipe está
no limite e precisa jogar no limite para competir com os mais fortes.
Se o São Paulo é para mim a quarta força da
Copa do Brasil dentre os semifinalistas (confira nas casas de apostas quem é o
menos cotado para ser campeão do torneio e veja se estou mentindo), entendo que
o time é o grande favorito para ganhar a Copa Sudamericana. Vai enfrentar na
semifinal, decidindo no Morumbi, o Atlético-GO, que luta contra o rebaixamento
no Campeonato Brasileiro e que tem levado algumas goleadas recentemente (4 a 1
Corinthians, 4 a 1 Flamengo e 4 a 1 Athletico). Com Jorginho no olho do furacão
por conta de seus ataques a Abel Ferreira, a situação é mais favorável ao São
Paulo, que neste Brasileiro já venceu o Dragão fora de casa (2 a 1). Em uma
hipotética final em Córdoba, na Argentina, certamente haverá uma invasão
são-paulina para lotar os mais de 50 mil lugares do estádio Mario Kempes. O adversário
terá muito possivelmente pouca torcida na decisão, seja ele o Independiente del
Valle ou o Melgar, o grande azarão do torneio. O São Paulo fez a segunda melhor
campanha no torneio até as quartas de final, quando eliminou o time de melhor campanha,
o Ceará. O elenco tricolor é bem mais caro e melhor do que os dos outros três
semifinalistas. Eu não queria dizer que agora é uma obrigação para o São Paulo
ganhar a Copa Sudamericana, mas é quase isso.
Assim como não tenho medo de afirmar que o
São Paulo é quem mais corre muito por fora na Copa do Brasil (é o único dos
semifinalistas que ainda não possui esse título, tem mais esse tabu e esse peso
para carregar), não tenho receio nenhum em dizer que o São Paulo deve ser o
campeão da Copa Sudamericana, o que seria o 13º título internacional oficial do
clube, sendo que já é o recordista brasileiro nesse quesito. O título da
Sudamericana valeria ainda vaga direta na fase de grupos da Libertadores (o que
parece quase impossível via Brasileiro), e a chance de disputar a Recopa contra
o campeão da América deste ano. Talvez resgatem até a antiga Copa Suruga/Levain
Cup, que não teve suas duas últimas edições por conta da pandemia e da
Olimpíada de Tóquio.
Imagino que os são-paulinos até prefiram neste
momento o título da Copa do Brasil, por ser inédito e por dar R$ 60 milhões ao
seu campeão, mas também porque é mais difícil mesmo. Imagina o que significaria
para o São Paulo, nesta fase de vacas magras, conquistar a primeira Copa do
Brasil em cima do maior rival (Corinthians) após ter eliminado o Palmeiras
(segundo maior rival) e o poderoso Flamengo. Sonhar não custa nada, e o papel do
torcedor é pensar de forma positiva mesmo. Só que minha análise é mais fria e
técnica: as chances são-paulinas nas duas copas que disputa são completamente diferentes.
Respeito demais o São Paulo e sua história, mas isso não me impede de mostrar
as dificuldades que o clube e sua torcida têm enfrentado nos últimos anos. Eu
tenho dito, já faz algum tempo, que a melhor coisa do São Paulo tem sido seu cada
vez mais fervoroso e presente torcedor. E eu me identifico bastante com essa turma,
embora eu seja um torcedor mais das antigas, das épocas mais gloriosas. Para
quem não sabe, eu costumo torcer em cada país para o time de maior tradição
internacional, e no Brasil não é diferente.
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