Por que Flamengo e Palmeiras estão polarizando o futebol brasileiro, e não mais 'espanholizando'
Flamengo e Palmeiras são os clubes que mais possuem títulos nacionais. E já estão abrindo uma grande vantagem sobre a concorrência, cada vez menor e mais endividada. O rubro-negro ganhou a final da Copa do Brasil, passou a ser tetra do torneio assim como o Verdão, e computa 15 taças nacionais, incluindo o Módulo Verde da Copa União de 1987, duas Supercopas e uma Copa dos Campeões, torneio extinto que dava uma vaga na Libertadores. O Palmeiras deve confirmar neste ano seu 16º título nacional, sendo 11 Brasileiros (com a unificação), 4 Copas do Brasil e também uma Copa dos Campeões. Os dois gigantes vão se encontrar quase que certamente na Supercopa do ano que vem, assim o Flamengo poderá empatar com o Verdão com 16 troféus.
Esse domínio escancarado dos dois clubes foi consolidado nos últimos anos após mudanças significativas na administração de ambos. O Flamengo faturou cinco troféus nacionais desde 2019, e o Palmeiras está indo para a sua quarta taça nacional desde 2016. Das últimas sete edições do Brasileiro (contando a atual), só duas vezes o título escapou da poderosa dupla: o Corinthians de Fabio Carille surpreendeu em 2017, e o Galo de Cuca saiu da fila de 50 anos no Nacional. O Palmeiras deve ser campeão brasileiro neste ano com algumas rodadas de antecedência, mas não vai igualar os 90 pontos do Flamengo de Jorge Jesus em 2019 (16 pontos de vantagem sobre o Santos e o próprio Palmeiras).
O Verdão foi vice do Brasileiro em 2017, e o Mengão ficou em
segundo lugar nos Brasileiros de 2018 e 2021, além da Copa do Brasil de 2017. Não
dá para ignorar a hegemonia que está sendo imposta por esses dois clubes no
futebol brasileiro, que temeu por muito tempo sofrer uma “espanholização”.
Muita gente entendia que Corinthians e Flamengo, por razões financeiras, seriam
o “Real Madrid e o Barcelona” do Brasil, condenando todos os outros clubes do
país a uma posição secundária. Só que quem tomou essa posição de destaque a
lado do rubro-negro foi o Palmeiras.
O Flamengo fatura R$ 160 milhões de PPV (pay-per-view), R$ 50 milhões a mais do que o Corinthians. Os dois clubes mais populares do Brasil possuem contratos muito superiores aos da concorrência, contando com um valor mínimo alto garantido e bônus de vendas. O São Paulo, dono da terceira maior torcida do país, é o terceiro que mais lucra com PPV, mas o valor é só R$ 36 milhões, R$ 124 milhões a menos do que o Flamengo (um valor maior do que o Tricolor vai faturar com as vendas de Antony e Casemiro nesta temporada, algo em torno de R$ 115 milhões).
O Palmeiras ganha um pouco menos do que o São
Paulo: R$ 32 milhões. Não fosse seu patrocinador forte pagando valor acima do
que o mercado sugere, o Verdão teria dificuldades para manter o alto nível de
investimento dos últimos anos e competir para valer. O Galo também lucra por ter poderosos parceiros,
uma vez que ele recebe “apenas” R$ 20 milhões de PPV. Só que sabemos que a
dívida do Atlético-MG é a maior dentre os clubes brasileiros. As boas campanhas
recentes do Galo e sua arena (estará pronta em 2023) não são suficientes para garantir
um faturamento anual de quase R$ 1 bilhão, algo que o Flamengo tem como algo possível.
Outros grandes clubes do país, mesmo com boas administrações, não conseguem nem meio bilhão de faturamento. É o caso de Athletico, Grêmio e Internacional, no Sul, e também de camisas tradicionais do Sudeste, como Cruzeiro, Santos, São Paulo e Vasco. Apenas o Corinthians parece hoje em condições reais de se aproximar financeiramente de Flamengo e Palmeiras. Por essas e outras que houve um racha na formação da liga independente da CBF, com vários clubes reclamando do privilégio dado na divisão dos valores para as equipes de maior torcida.
Tal problema vem praticamente desde 1987, ano em que nasceu a Copa União e o Clube dos 13, entidade que se abriu para outros clubes mais tarde mas que já foi extinta por vontade política e comercial de alguns.
Não sei se a transformação de alguns clubes do país em SAF vai mudar o cenário atual do futebol brasileiro. Creio que, a curto e médio prazo, tanto o Flamengo quanto o Palmeiras continuarão disputando os principais títulos do país e da América do Sul. Se o rubro-negro vencer a Libertadores neste ano (é bem favorito contra o Athletico, na minha opinião), serão quatro anos com a dupla Mengão/Verdão dominando o continente. O Palmeiras já bateu o recorde de participações seguidas na Libertadores entre os brasileiros, com oito edições consecutivas.
Se antes era muito difícil para todos os clubes chegar à Libertadores (precisava ser campeão ou vice brasileiro ou ganhar a Copa do Brasil), hoje com tantas vagas é quase impossível uma edição do torneio sem o alviverde paulista. A mesma coisa serve para o Flamengo, que vai para a sua sétima Libertadores de forma seguida. Os nossos vizinhos passaram a respeitar e temer essa dupla endinheirada. São hoje quase “clubes europeus” disputando na América do Sul.
O Corinthians, com seus 11 títulos nacionais, é o terceiro com mais troféus do tipo. Vice da Copa do Brasil, não conquista um título nacional desde 2017. Na década passada, enquanto o Flamengo e o Palmeiras sofriam na parte administrativa, o Timão ganhou Mundial, Libertadores e três Brasileiros. Agora, está complicado acompanhar os principais adversários. O São Paulo, hexacampeão brasileiro, não ganha um título nacional desde 2008 e vem lutando em alguns anos para não cair. O Santos ainda não foi rebaixado também, porém não vence um título nacional desde 2010.
O Cruzeiro e o Grêmio, os maiores
vencedores da Copa do Brasil, experimentaram neste ano então a Série B, assim
como o Vasco, quinta maior torcida do país. O Inter tem beliscado alguns vices
do Brasileiro, campeonato que não vence desde 1979, mas também passou
recentemente pela Série B e não vence nenhum troféu nacional desde 1992. O
Nordeste venceu uma taça do tipo pela última vez em 2008, com o Sport, época em
que os times que jogavam a Libertadores não podiam disputar a Copa do Brasil.
O Athletico tem sido uma exceção no futebol brasileiro, conseguindo um título nacional recente (além de duas Copas Sudamericanas) mesmo sem ter um investimento tão alto como o de Flamengo e Palmeiras. Só que seu presidente, Mario Celso Petraglia, é quem mais combate publicamente e nos bastidores a vantagem financeira cavalar que o Flamengo, sobretudo, tem no futebol brasileiro. O Flamengo quase ganhou tudo em 2019 (coisa que o Galo esteve perto em 2021), e o Palmeiras na era Abel Ferreira faturou praticamente todos os títulos possíveis (faltou o Mundial).
A Tríplice Coroa que parecia impossível até outro dia está na mira desses poucos clubes endinheirados do nosso país. Esse cenário desigual pode mudar em alguns anos se certos times mudarem administrativamente, mas o retrato do momento é da tal “espanholização” que tanto falavam. É importante aqui lembrar, no entanto, que o Atlético de Madri foi campeão espanhol na temporada retrasada e que o Betis, a Real Sociedad e o Valencia ganharam a Copa do Rei nos últimos quatro anos (e que o gigante Real Madrid não conquista a sua copa nacional desde 2014).
Talvez o termo “espanholização” esteja mesmo errado. Melhor falar em polarização, algo que está muito na moda no país..
Por que Flamengo e Palmeiras estão polarizando o futebol brasileiro, e não mais 'espanholizando'
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