História de superação de Endrick e sua família encanta até mais que seu talento e me faz lembrar de Henry
Talvez a grande notícia desta última semana no futebol brasileiro tenha sido a tão esperada estreia do atacante Endrick no time principal do Palmeiras, mas isso ficou pequeno para mim diante da linda história de luta de sua família, muito bem retratada no choro de seu pai na arquibancada. Torcedores de vários times, imprensa, empresários, clubes europeus, e amantes do futebol de todo tipo aguardavam curiosos pelo debut do garoto de 16 anos que dá show no sub-20. Muito se discutiu se o inteligente Abel Ferreira estava fazendo o certo ou se estava sendo injusto ao mostrar cautela desde o Mundial de Clubes com aquela que talvez seja mesmo a maior promessa já revelada pelo Verdão na história.
Endrick já tinha ficado no banco em partidas
anteriores deste Campeonato Brasileiro que já está encaminhado para o Palmeiras
há mais de um mês, antes mesmo de eu sair de férias (volto só agora a escrever no
blog por isso). Havia um clamor generalizado pela utilização do mais novo
fenômeno do futebol nacional e a chance veio contra o Coritiba, no segundo tempo,
quando a vitória do time da casa já estava consolidada. As imagens de Endrick
entrando em campo, desperdiçando duas oportunidades (em uma delas não passando
a bola para companheiros que estavam em melhor condição) tomaram conta dos
programas esportivos. Talvez rodem o mundo quando ele completar 18 anos e for negociado
com algum gigante do futebol europeu. Quem esteve no Allianz Parque nesse jogo
jamais vai esquecer a euforia quando ele foi chamado para entrar na partida. Diria
que é bem grande chance de no futuro milhares de palmeirenses dizerem com
orgulho que estavam no estádio na goleada contra o Coritiba. Isso porque a
história de Endrick é infinitamente maior do que essa partida que ampliou ainda
mais a liderança alviverde no Brasileiro. Ninguém sabe aonde pode chegar no
futebol esse talentoso jogador, mas todos já sabem do seu passado de fome.
Douglas, o pai de Endrick, estava emocionado
demais com a estreia de seu filho no time principal do Palmeiras. Isso é normal
para qualquer pai que vê a realização de sua cria. Mas imagina o filme todo que
passou ali na cabeça de Douglas e de outros integrantes de sua família. O pai
de Endrick jogou bola e ganhou algum
troco dessa forma para conseguir comprar cestas básicas, para pagar uma conta
de água, para comprar um gás e para dar um sustento à sua família, como ele já
declarou em entrevistas. O pai de Endrick é um guerreiro, como outros milhões
neste país que tentam sair da linha da pobreza, que lutam para dar comida a
seus filhos. Ele não teve o raro talento do filho para jogar bola e por isso
não foi muito longe em sua carreira profissional. Mas ele ama futebol e foi
dessa forma que que ele viu uma possibilidade de tirar sua família da miséria.
Quantos não usam o futebol no Brasil para ascender socialmente, para conseguir
independência financeira?
Em um certo dia, Endrick disse que estava com fome e pediu comida ao pai, mas infelizmente não tinha nada na geladeira nem no armário. O garoto falou então que iria ser jogador do futebol para mudar a situação da família. Basicamente, Endrick pensou exatamente como seu pai, só que sua qualidade absurda para jogar futebol o colocou ainda muito cedo em uma condição de estrela, coisa que Douglas passou longe de ser.
Quantos Endricks temos no
Brasil? Pensando em craques, eles são cada vez mais raros. Quantos Douglas nós
revelamos neste país? Vários, infelizmente. São mais de 30 milhões de pessoas
que vivem na pobreza no Brasil atualmente. E, infelizmente, não tem time de
futebol para todo esse povo no mundo. Aliás poucos são os times de futebol no
país que têm boa condição financeira. O pai de Endrick teve muitas dificuldades
para ficar em São Paulo e contou com a ajuda de Jailson, ex-goleiro palmeirense,
para segurar o filho no Verdão, um caso raro hoje de clube nacional endinheirado.
Endrick já está dando ao seu irmão mais novo tudo o que ele não teve. Agora, ninguém passará mais fome e aperto na família. Por isso o choro também de Douglas enquanto filmava com seu celular a entrada em campo de Endrick contra o Coritiba. Não era apenas um pai ali festejando seu filho virando jogador de futebol. Aliás é nessas horas que a gente vê que “não é só futebol”. Desde já há uma torcida enorme para o sucesso de Endrick e de sua família. O garoto perdeu ainda recentemente o avô e lamentou emocionado que não conseguiu dar a ele a alegria de vê-lo jogar no time principal. Infelizmente, a vida é curta e é sofrida demais para tanta gente. Só quem passou fome sabe o que é isso.
Carrasco do Brasil na Copa de 2006, o elegante
atacante francês Henry disse naquela época que “os jogadores não estudam” ao explicar
por que apareciam tantos craques brasileiros. “No Brasil, nascem com uma bola
nos pés. Na praia, na rua, na escola, onde se olha estão jogando futebol. Quando
eu era criança, pedia à minha mãe se eu podia brincar, e ela muitas vezes negava.
Eu estudava das 7h às 17h. No Brasil, as crianças jogam das 8h às 18h. Basta
ver aquelas cinco estrelas na camisa deles para perceber que o futebol faz
parte de sua identidade. Gostam de tal forma do jogo que só querem levar a bola
para o ataque. Sempre foi assim e vai continuar sendo sempre”, afirmou Henry,
que despertou algumas críticas com essa análise do futebol brasileiro.
Impossível não pensar em Endrick ao resgatar as
frases do Henry. Não sei exatamente como foi a vida escolar do jovem craque do Palmeiras,
mas sei que ele precisava arrumar dinheiro e comida para sua família, mesmo
sendo ainda uma criança. O futebol não é só parte da identidade do Brasil, ele
é uma rara salvação para alguns saírem das classes mais baixas da sociedade. Em
alguns casos, é quase a única esperança de sobrevivência. A humildade de Endrick
e de sua família encantam quase tanto quanto o seu futebol, bastante ofensivo
como também cantou a bola o Henry. Não vai dar para Endrick na Copa do Mundo
deste ano no Qatar (há uma discussão agora se ele deve ou não servir a seleção
sub-17, que parece pouca coisa para ele e todo o seu talento), mas muito possivelmente
em 2026, no Mundial na América do Norte, ele deverá estar no radar da seleção
principal. Muitas reportagens mundo afora vão lembrar desta estreia de Endrick
contra o Coritiba e do sofrimento da
superação de sua família.
Isso é o puro suco do futebol brasileiro, o
puro suco do Brasil.
História de superação de Endrick e sua família encanta até mais que seu talento e me faz lembrar de Henry
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