Holanda deixa a Copa com 20 jogos de invencibilidade, uma jogada histórica e pouca bola
Eu vinha dizendo que a Holanda atual não tinha
muito como ir longe nesta Copa, que sofria com algumas limitações, que não era bastante
ofensiva e que Van Gaal fez até alguns pequenos milagres com o material humano
que possuía. A eliminação diante da Argentina nas quartas de final não chega a
chocar ou surpreender ninguém nem mesmo na Holanda. Mas o roteiro da queda é dos
mais doloridos para os torcedores da Laranja.
Quando saiu o sorteio dos grupos da Copa,
ficou claro que a seleção holandesa passaria em primeiro lugar na chave, o que
de fato aconteceu. Depois, também era esperada uma “moleza” nas oitavas de
final, e apareceram os Estados Unidos, com um time muito jovem, pela frente. A
Holanda passou em seu melhor jogo neste Mundial, usando bem seus alas como não
havia feito no torneio do Qatar. Até por isso, Lionel Scaloni, o treinador da
Argentina, espelhou o adversário laranja e atuou com três zagueiro, deixando Di
María, que não estava 100%, no banco. Essa mudança do rival surtiu muito feito,
tanto que o ala direito argentino Molina fez um gol e o ala esquerdo Acuña sofreu
o tolo pênalti cometido por Dumfries. A Holanda pouco incomodou no ataque até os
minutos finais do tempo regulamentar, quando usou os postes Luuk de Jong e
Weghorst. O último fez os dois gols holandeses após substituir o “craque
enganação” Memphis.
Argentina leva empate aos 100 minutos, mas vence a Holanda nos pênaltis e está na semifinal da Copa; VEJA como foi
Memphis Depay começou a Copa tentando se recuperar
de lesão e foi entrando aos poucos no time. Mas mesmo quando está em seu auge
físico e técnico, ele não inspira muita confiança. Contra a Argentina, ele teve
uma atuação pobre. No seu melhor jogo, contra os Estados Unidos, também mostrou
sua displicência. Ele declarou gostar mais de jogar com Bergwijn no ataque e
ganhou esse presente de Van Gaal. Só que a fase de Bergwijn é ruim e ele fez
mais uma partida bem discreta, sendo substituído no segundo tempo. Os gols “salvadores”
da Holanda saíram no final da partida de jogada aérea e de jogada ensaiada na
bola parada. Weghorst, o melhor dos três centroavantes que Van Gaal levou para
o Qatar, teve um grande impacto no jogo e definiu bem um cruzamento de Berghuis
e, sobretudo, a jogada que ficará eternizada na história das Copas como mais
uma inovação laranja.
Koopmeiners, no último lance do jogo praticamente, rolou a bola na área para Weghorst fazer um gol emblemático que coroa a despedida de Van Gaal das Copas. Ele saiu invicto do Mundial do Brasil em 2014 inovando com a entrada do goleiro Krul na reta final para pegar pênaltis. E ele sai invicto da Copa do Qatar usando uma jogada ensaiada impensável para aquele momento crucial da partida, uma falta muito perto da área que, pela lógica, deveria ser cobrada de forma direta. Os dois jogadores que executaram com perfeição a jogada ensaiada saíram do banco de reservas para dar uma sobrevida na partida para a Laranja.
O empate dramático nos segundos finais não esconde o fato de a Argentina ter jogado um pouco melhor nos 90 minutos. Aliás a Argentina continua sem vencer a Holanda em 90 minutos: apenas ganhou na prorrogação na final de 1978 (3 a 1). Em dez confrontos, agora são quatro vitórias da Holanda, cinco empates e uma vitória argentina. Só que em dois empates a Argentina venceu na disputa de pênaltis (o time de Van Gaal caiu dessa forma em 2014 e em 2022). O experiente treinador holandês disse que tinha contas a acertar com os argentinos por conta da eliminação na semifinal em Itaquera, mas agora deixa o futebol com uma conta ainda maior. Só que Van Gaal deixa a Copa sem perder (somando os dois últimos Mundiais que a Holanda jogou, são oito vitórias e quatro empates). Para quem estava aposentado e precisou superar um câncer agressivo em meio às eliminatórias, a campanha pode ser considerada bem boa. Não viu a Holanda perder desde que assumiu o time em um momento de dificuldade.
Blind teve uma atuação ruim contra a Argentina
e aumentou o coro de quem queria Malacia na lateral esquerda. O filho do
auxiliar de Van Gaal, que atua com um desfibrilador, deu lugar para um centroavante:
Luuk de Jong. A Holanda melhorou e começou a sufocar a Argentina, que recuou
após fazer 2 a 0 (pênalti convertido por Messi, que deu a assistência para o gol
de Molina). Messi não havia feito gol na Holanda nos dois jogos anteriores em
Copas (0 a 0 em 2006 e em 2014). A tática do chuveirinho ficou ainda mais
escancarada na Holanda quando Weghorst entrou. De cabeça, ele fez o gol que
manteve a Laranja viva. Faltavam apenas sete minutos para acabar o tempo normal. Clima ficou bem tenso após uma bola ser chutada
com força por Paredes no banco da Holanda. Na base da pressão, a equipe europeia
conseguiu uma falta na entrada da área por volta dos 10 minutos de acréscimos. No
minuto 90+11, veio o gol de Weghorst que chocou quem estava assistindo ao jogo.
O estádio, lotado de argentinos que já celebravam a classificação para as
semifinais, ficou quase mudo (havia poucos holandeses no Qatar).
O primeiro tempo da prorrogação foi morno, com
os times cansados e temendo serem vazads. Na segunda etapa no tempo extra, a
Argentina bombardeou o gol de Noppert, goleiro que Van Gaal tirou da cartola
nesta Copa e de quem se esperava muito na disputa de pênaltis. Mas, apesar dos
seus 2,03 m, o arqueiro do Heerenveen que nunca tinha defendido a seleção até
esta Copa não defendeu nenhuma penalidade máxima. Levou dois gols dessa forma
de Messi, sendo sempre deslocado. A única cobrança errada da Argentina teve uma
bola para fora. A Holanda já havia caído nos pênaltis em 1998 (semifinal contra
o Brasil), em 2014 e 2018 (diante dos argentinos). Assim, dos últimos 19 jogos
de Copa da Laranja, ela teve apenas uma derrota: 1 a 0 para a Espanha na
decisão do Mundial de 2010. E foi um gol de Iniesta já no finalzinho da prorrogação.
Mesmo com time limitados, a Holanda tem conseguido fazer boas campanhas em
Copas.
A seleção holandesa manteve o tabu de sempre
avançar na fase de grupos da Copa, chegou a 30 vitórias na história dos
Mundiais (está à frente do Uruguai na tabela histórica de pontos do mais nobre
torneio de seleções), mas o título tão sonhado ainda não veio. Há uma boa
chance de conquista no meio do ano que vem, quando a Holanda vai sediar a fase
final da Nations League. Vai medir forças contra Croácia, Espanha e Itália. Koeman
voltará a comandar a Holanda, que estreia nas eliminatórias para a Eurocopa de
2024 simplesmente contra a França fora de casa. Algumas novidades positivas,
como Gakpo, devem ganhar ainda mais espaço no time liderado por Van Dijk,
capitão que bateu e perdeu o primeiro pênalti da Holanda contra a Argentina.
Berghuis também parou no catimbeiro goleiro Martínez.
Resumindo tudo, mais uma campanha destacada
da Laranja em Mundiais e mais uma eliminação dolorosa com requintes de crueldade.
Não foi uma queda injusta, afinal a Argentina procurou atacar e vencer mais.
Além de uma geração melhor de atletas, a Holanda precisa ter mais fome, competitividade
e mais bola mesmo, honrar a escola holandesa e ser mais presente no ataque.
Fica a lição desta Copa do Qatar, assim como fica o segundo gol da Holanda
contra a Argentina na história dos Mundiais.
“Há coisas que só acontecem com a Holanda.”
Holanda deixa a Copa com 20 jogos de invencibilidade, uma jogada histórica e pouca bola
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