Muitos treinadores brilharam na Copa do Mundo do Qatar, não apenas o campeão Lionel Scaloni, que era visto como um auxiliar ou mesmo um estagiário quando assumiu o comando da Argentina. Boa parte dos técnicos do Mundial saiu maior do nobre torneio da Fifa, independentemente da posição de suas seleções. Os quatro semifinalistas puxam a fila dos melhores trabalhos desta Copa no Oriente Médio disputada no fim do ano, no meio da temporada europeia. Mas tem 'professor' que foi eliminado ainda na fase de grupos deixando uma impressão positiva. Fiz um ranking dos treinadores do Mundial, tentando resumir os motivos pelos quais eles ocupam suas posições nesta lista. Tite, com quem sonhei de verdade na véspera do Natal (eu o entrevistava e ele dizia estar “mais leve”), está no meio da tabela.
1º LIONEL SCALONI (ARGENTINA)
Seu time chegou à Copa com uma invencibilidade de 36 partidas. Perdeu na estreia e mexeu profundamente na equipe. Passou a jogar todas as partidas como mata-mata mesmo, alterando a escalação de acordo como adversário. Vale lembrar que perdeu Lo Celso, um grande parceiro de Messi, pouco antes da Copa.
2º DIDIER DESCHAMPS (FRANÇA)
Perdeu oito atletas para o Mundial, alguns de grande peso, como Benzema, Pogba e Kanté. Mesmo assim, levou o time à final e só caiu na disputa de pênaltis. Seu trabalho foi até melhor do que o de 2018, quando saiu com o título. A França atuou de forma mais ofensiva. Perdeu um jogo para a Tunísia, mas atuou com reservas.
3º WALID REGRAGUI (MARROCOS)
Liderou a sensação da Copa e fez história ao colocar pela primeira vez uma seleção africana nas semifinais. Despachou Espanha e Portugal, além de ter ficado em 1º no grupo que tinha Bélgica e Croácia. Nos dois últimos jogos, o time de Regragui foi batido, mas estava com sérios desfalques, sobretudo em sua forte defesa.
4º ZLATKO DALIC (CROÁCIA)
Depois do vice em 2018, Dalic voltou a surpreender ao levar sua equipe à terceira posição na Copa. Mesclou bem a experiência de jogadores como Modric e Perisic com a juventude de Gvardiol. Controlou o começo do jogo contra o Brasil com seu forte meio-campo. Acabou eliminando um dos grandes favoritos ao título.
5º HAJIME MORIYASU (JAPÃO)
A seleção japonesa bateu Alemanha e Espanha e terminou em 1º lugar em seu grupo. Depois, jogou melhor do que a Croácia nas oitavas, empatou e caiu nos pênaltis. Pouca gente acreditava nesta nova geração japonesa, mas Moriyasu, técnico local, surpreendeu. Outro caso de assistente técnico da Copa-18 que vinga em 2022.
6º HERVÉ RENARD (ARÁBIA SAUDITA)
A vitória contra a Argentina na estreia talvez seja a maior zebra da história das Copas, afinal o rival não perdia há 36 partidas e iria alcançar o recorde de jogos sem perder de seleções. O forte discurso de Renard no intervalo viralizou. E, depois do jogo, o vidente Renard disse que a Argentina seria a campeã do mundo.
7º LOUIS VAN GAAL (HOLANDA)
O veterano, que venceu um câncer enquanto salvava a Holanda na luta para ir à Copa, saiu do Mundial invicto, como em 2014 (são 12 jogos de Copa sem perder, caindo nas duas vezes diante da Argentina nos pênaltis). O futebol não foi vistoso, mas terminou em 5º lugar. E deixou um gol de jogada ensaiada para a história.
8º GARETH SOUTHGATE (INGLATERRA)
Exceção feita à partida contra os EUA, um empate sem gols, a seleção inglesa foi a mais ofensiva da Copa até as quartas de final, quando foi superior à França em boa parte do jogo mas perdeu por 2 a 1 (com Kane desperdiçando um pênalti). Southgate ousou ao confiar em Maguire e deu vez a Bellingham. Fez bom papel.
9º GRAHAM ARNOLD (AUSTRÁLIA)
Muitos diziam que era a Austrália mais fraca que já foi para uma Copa, mas ela surpreendeu, passando para as oitavas batendo a bem cotada Dinamarca e a Tunísia, que tinha grande torcida no Qatar. No mata-mata, realizou um jogo duro com a Argentina, com Martínez fazendo defesaça que impediu uma prorrogação.
10º GREGG BERHALTER (ESTADOS UNIDOS)
O jovem time norte-americano foi para o Mundial mais para se preparar para a Copa de 2026 em casa, mas praticou um bom futebol, sendo superior à Inglaterra no 0 a 0 entre eles (mantido o tabu de não perder dos ingleses em Copas). Venceu o explosivo duelo com o Irã e teve bons momentos até contra a Holanda.
11º ALIOU CISSÉ (SENEGAL)
O bom time africano sofreu um grande baque ao perder por contusão seu craque Mané, mas, apesar da ausência pesada, Senegal avançou ao mata-mata, sendo que não merecia ter perdido da Holanda pelo futebol que apresentou. Cissé não conseguiu fazer muita coisa contra a Inglaterra nas oitavas.
12º GUSTAVO ALFARO (EQUADOR)
A classificação para as oitavas não veio, mas os sul-americanos deixaram boa impressão na Copa. Após bater os anfitriões no jogo de abertura, o Equador jogou melhor do que a Holanda e sufocou a seleção europeia no final. Gustavo Alfaro aproveitou bem Enner Valencia mesmo quando ele não estava 100%.
13º LUIS ENRIQUE (ESPANHA)
A campanha espanhola não foi boa, mas o estilo de toque de bola e controle de jogo pela posse esteve presente. A Espanha iniciou arrasando a Costa Rica (7 a 0), depois segurou a Alemanha e perdeu do Japão quando podia. Diante de Marrocos, o time de Luis Enrique dominou, mas pecou na conclusão até nos pênaltis.
14º FERNANDO SANTOS (PORTUGAL)
O treinador português, muito criticado antes da Copa por ser conservador e incapaz de mudar situações, foi bem ao barrar Cristiano Ronaldo por conta da fase ruim do badalado atacante e pelo desrespeito público dele com seu técnico. Portugal goleou nas oitavas com um show de Gonçalo Ramos, o reserva de CR7.
15º TITE (BRASIL)
Na sua 2ª Copa, com muito mais opções, o técnico decepcionou. Seu time fez 3 gols na fase de grupos (pior campanha ofensiva desde 1978) e perdeu de Camarões (1ª queda em Copas do Brasil para um país que não é de Europa e América do Sul). Demorou para entender a Croácia e saiu nos pênaltis sem Neymar cobrar.
Tite comandando a seleção brasileira
Lucas Figueiredo/CBF
16º MURAT YAKIN (SUÍÇA)
Quase conseguiu terminar na 1ª posição no grupo do Brasil (faltou um gol no saldo). Conseguiu mais uma vez travar o time de Tite e superar a rival Sérvia e seus talentos individuais. O problema foi a goleada sofrida para Portugal nas oitavas (6 a 1), placar histórico e vergonhoso para a tradição defensiva suíça.
17º RIGOBERT SONG (CAMARÕES)
Fez história ao vencer o Brasil por 1 a 0, pois Camarões virou o 1º país de fora da Europa e da América do Sul a derrotar os pentacampeões. Terminou na frente da Sérvia em grupo difícil, no qual fez eletrizante 3 a 3 contra o time do leste europeu, com direito a um dos golaços da Copa (Aboubakar, por cobertura).
18º CZESLAW MICHNIEWICZ (POLÔNIA)
Não fez seu time jogar um bom futebol, mas conseguiu levar a equipe até as oitavas, sendo eliminado pela favorita França. Um pouco menos dependente de Lewandowski, o time polonês festejou os primeiros gols de seu famoso centroavante em Copas. Problema é que dependeu muito de milagres do goleiro Szczesny.
19º PAULO BENTO (COREIA DO SUL)
Avançou com dramaticidade às oitavas em um grupo dos mais embolados. A vitória no fim contra Portugal fez os uruguaios chorarem. Por não ser uma das gerações mais talentosas da Coreia, embora tenha Son no time, o trabalho de Paulo Bento foi satisfatório. Ele foi mal nas oitavas, sendo goleado pelo Brasil.
20º HANSI FLICK (ALEMANHA)
Claro que foi uma vergonha a seleção alemã não passar da fase de grupos pela segunda vez seguida, mas o desempenho do time foi bom na maior parte do Mundial. Pecou em especial no 2º tempo contra o Japão (poderia ter feito boa vantagem na etapa inicial). Fez jogo igual contra a Espanha, mas ficou sem a vaga no saldo.
21º CARLOS QUEIROZ (IRÃ)
Chegou ao Mundial sem muita condição de avançar às oitavas, mas esteve perto de conseguir isso ao pressionar os Estados Unidos no fim. O Irã reclamou sem razão de pelo menos um pênalti no jogo decisivo contra os americanos. Queiroz mandou bem contra País de Gales, mas foi muito mal contra a Inglaterra.
22º JALEL KADRI (TUNÍSIA)
Mais um caso de técnico local que fez uma Copa interessante. Venceu a poderosa França, um triunfo bastante significativo para os torcedores tunisianos, e segurou a bem cotada Dinamarca, a quem superou em pontuação. O pecado foi ter perdido um jogo para a Austrália, mas a performance da equipe foi bem aceitável.
23º DIEGO ALONSO (URUGUAI)
Verdade que o técnico da Celeste demorou a usar Arrascaeta como titular, mas seu time só não avançou de fase por conta de erros de arbitragem. Acabou fora no saldo de gol, e alguns lances de pênalti mudariam o cenário. Administrou os veteranos Cavani e Suárez e não explorou bem novos valores, como Valverde.
24º OTTO ADDO (GANA)
Ele se transformou no 1º técnico de Gana a vencer uma partida de Copa. Dividido entre a função de treinador e a de caçador de talentos, conseguir fazer boas partidas contra Portugal (2 a 3) e Coreia do Sul (3 a 2). No nervoso duelo diante dos uruguaios, seu time começou bem, mas falhou de novo em um pênalti decisivo.
25º JOHN HERDMAN (CANADÁ)
Como o Canadá não jogava a Copa desde 1986 e o foco maior está no Mundial de 2026, quando será sede, a participação dos canadenses até que não foi de todo ruim. Na estreia, mostrou um desempenho surpreendente, jogando melhor do qu a Bélgica. Depois, caiu diante de Croácia e Marrocos, duas seleções que foram à semifinal. Davies fez o 1º gol do Canadá em Copas.
26º GERARDO 'TATA' MARTINO (MÉXICO)
Pela primeira vez desde 1978 a seleção mexicana ficou fora na fase de grupos da Copa, mas isso aconteceu por causa do saldo de gols. A vitória de 2 a 1 contra a Arábia Saudita foi curta. Empatou com a Polônia em campo e perdeu de 2 a 0 da campeã Argentina. Muito criticado pela imprensa, Tata Martino já deixou a seleção.
27º LUIS FERNANDO SUÁREZ (COSTA RICA)
O início foi tenebroso (7 a 0 para a Espanha), mas o time mostrou poder de reação e venceu na sequência o Japão por 1 a 0. Chegou a virar incrivelmente contra a Alemanha na partida que terminou com vitória de 4 a 2 dos europeus. Não passou pelo Grupo da Morte agora, mas fez 1 ponto a menos que 2 campeãs mundiais.
28º DRAGAN STOJKOVIC (SÉRVIA)
Seleção bem cotada por conta de boas individualidades, a seleção da Sérvia colocou o Brasil em dificuldade, sobretudo no 1º tempo. Fez jogo eletrizante com Camarões (3 a 3) e decidiu tudo contra a rival Suíça. Virou o placar ainda no 1º tempo, mas sucumbiu na etapa final e saiu de forma precoce e na lanterninha do grupo.
29º ROBERT PAGE (PAÍS DE GALES)
Uma seleção com pouca alma na Copa, talvez um reflexo do que virou Bale, astro da equipe. Aliás Bale fez de pênalti o único gol do time galês no Mundial, na estreia contra os EUA (1 a 1). Caiu diante do Irã (0 a 2) e da rival Inglaterra (0 a 3) sem competir muito. Giggs seria o técnico, mas ele teve problemas pessoais.
30º KASPER HJULMAND (DINAMARCA)
Para uma seleção que chegou tão bem cotada, dando pinta de que poderia ir à semifinal pela sua organização e pelo ânimo por contar com seu craque Eriksen, a decepção foi enorme. O time ficou na lanterna de seu grupo e marcou um mísero gol, esse contra a França, talvez no único jogo aceitável da equipe na Copa.
31º ROBERTO MARTÍNEZ (BÉLGICA)
Um treinador que brilhou na Copa-18 não foi capaz de controlar um vestiário em chamas. Os jogadores belgas entraram em conflito e fizeram um papelão no Mundial. Nem mesmo quando ganharam do Canadá convenceram. Lukaku começou fora de forma e terminou perdendo gols. Fim da dourada geração belga.
32º FÉLIX SÁNCHEZ BAS (QATAR)
A pior campanha de um anfitrião nas Copas é um fiasco que passa também pelo treinador espanhol, que se construiu na base do Barcelona e tinha a missão, desde 2006, de desenvolver o futebol no Qatar. Passou pelas seleções de base do país e conhecia bem seus jogadores, que protagonizaram lances de churrasco na Copa.
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