Como a Inglaterra asfixiou e massacrou o Irã e por que isto vale uns dias de paz a Southgate
Sabe aquele sorriso de canto de boca de quem tinha plena consciência de que era necessário dar uma resposta? Pois é, Gareth Southgate pode e merece comemorar a estreia recheada de gols da sua Inglaterra sobre o Irã por 6 a 2 na Copa do Mundo do Qatar, nesta segunda-feira (21), mas mostrar todos os dentes com uma barulhenta gargalhada ainda não está permitido ao técnico, que não sabia o que era vitória nos seis jogos anteriores.
Para início de conversa, o grupo B é puro suco de geopolítica, de história e de rivalidades.
Inglaterra, Irã, Páis de Gales e Estados Unidos têm muitos traços de encontros e desencontros e o jogo, mesmo sendo válido por um Mundial, acaba valendo não apenas três pontos.
Ainda sem poder contar com Walker, Southgate colocou em campo uma linha de defesa com Trippier, Stones, Maguire e Luke Shaw. Declan Rice e Jude Bellingham iniciando as jogadas no meio e muita movimentação no campo de ataque com Sterling, Mason Mount, Saka e Kane. Phil Foden acabou ficando no banco de reservas. E mesmo antes de a bola rolar, era fácil prever que o Irã teria linhas baixas de marcação e que o trabalho da Inglaterra seria fabricar espaços contra um time treinado por Carlos Queiroz, que reassumiu a seleção asiática após não conseguir entregar os resultados que Colômbia e Egito esperavam.
Os laterais ingleses pouco tocaram na bola no campo de defesa e os meias muito se movimentaram no ataque. Declan Rice e Bellingham determinavam o território e não permitiram que a seleção iraniana pensasse em jogar em contra-ataque. O ciclo pressão-retomada de bola-pressão tornou o ar irrespirável para a defesa do Irã, que ainda muito cedo perdeu o goleiro Beiranvand, que fez história ao ser o primeiro substituído em Copa sem queimar uma troca. Eu explico: o novo protocolo de concussão cerebral prevê a substituição do jogador e ainda libera para que outras cinco modificações sejam possíveis.
Bellingham, o único jogador convocado que não disputa a Premier League [atua pelo Borussia Dortmund, da Alemanha], abriu o placar. Saka e Sterling ampliaram a contagem ainda no primeiro tempo. A imposição inglesa foi tanta que o número de troca de passes completos ajuda a explicar muita coisa. Foram 365 contra 46 passes certos no primeiro tempo. Massacre!
O quarto gol, também marcado por Saka, foi a senha para que a concentração baixasse um pouco. É certo também que a seleção iraniana passou a tentar jogar mais no campo de ataque e conseguiu diminuir com o atacante Taremi, que vem em grande momento no Porto, aproveitando boa jogada pelo lado direito do ataque.
Southgate e Queiroz mudaram seus times. Rashford entrou em campo e marcou o quinto inglês e Grealish, que também veio do banco, fez o sexto. O árbitro Raphael Claus ainda foi chamado pelo VAR e marcou um pênalti, que Taremi converteu. O placar final de 6 a 2 diz muito para Southgate.
O sexto gol inglês reacendeu uma fantástica história recente. No mês passado, Grealish recebeu uma carta de um jovem fã. Finlay, 11 anos, tem paralisia cerebral e é uma criança completamente encantada pela forma que vê o relacionamento de Grealish com Holly, irmã mais nova do meia, que também tem paralisia cerebral. Grealish não só leu a carta como fez uma visita surpresa ao pequeno admirador. Entre uma lágrima e outra, Grealish prometeu que faria uma comemoração especial para o jovem Finlay. E olha que Grealish só havia marcado um gol na atual temporada. Finlay sabia que podia acreditar em Grealish, que acabou presenteando o menino no maior torneio do mundo. Que bom!
Southgate viu o nível de seu trabalho cair muito após a Eurocopa. O jogo não rendia e alguns convocados passaram a conviver com críticas mais severas. O técnico deu um voto de confiança a seus eleitos e manteve para o Mundial no Qatar 20 dos 26 convocados para a Euro. Maguire, vítima fácil, realmente havia se perdido em seu clube [o Manchester United] e na seleção, mas foi mantido e entregou uma boa partida. Saka, que acabou ganhando espaço de Foden, foi outra aposta que deu certo.
Em um grupo onde todos as seleções estão entre as vinte primeiras colocadas no ranking da Fifa, a Inglaterra reconquista a confiança e ainda manda recado para os outros competidores. Southgate, que antes fazia malabarismos para se defender nas entrevistas coletivas, agora já se permite abrir um leve sorriso. O caminho ainda é longo, mas o primeiro passo foi consistente.
Como a Inglaterra asfixiou e massacrou o Irã e por que isto vale uns dias de paz a Southgate
COMENTÁRIOS
Use a Conta do Facebook para adicionar um comentário no Facebook Termos de usoe Politica de Privacidade. Seu nome no Facebook, foto e outras informações que você tornou públicas no Facebook aparecerão em seu cometário e poderão ser usadas em uma das plataformas da ESPN. Saiba Mais.