Almirón, as lideranças internas e os conceitos iniciais de um novo Boca
Jorge Almirón foi anunciado em abril como novo treinador do Boca Juniors, rival do Palmeiras em uma das semifinais da Libertadores. Claro que ele sabia que aquele movimento teria repercussões em toda sua carreira, um salto para elevá-lo no cenário argentino ou para entrar na lista de tantos e tantos bons nomes que não se firmaram. Sabia do risco e traçou uma linha de trabalho.
Distante de seus melhores dias, o gigante azul e amarelo é um clube com problemas financeiros e administrativos. Almirón foi o quarto técnico da gestão Jorge Ameal como presidente e Riquelme como vice, e, diferentemente de um país em festa com o título mundial, o torcedor xeneize franzia a sobrancelha quando o assunto era o futebol praticado pelo time treinado por Hugo Ibarra.
O ano não começou com boa preparação, e os reflexos apareceram já em fevereiro com jogos fracos e resultados questionáveis. Março foi ainda pior, com uma vitória no início e outra no fim e derrotas para Instituto Córdoba e Banfield. Ibarra caiu na primeira semana de abril, e Almirón foi chamado ao trabalho.
Trabalhar nunca foi um problema para Almirón, que aos 14 anos trabalhou com um tio como carpinteiro e depois foi trabalhar em uma fábrica de maçanetas. "Fazia maçanetas de portas e janelas, trabalhava das 7 às 17 (horas) e terminava morto. Isso me ajudou a manter sempre os pés no chão e conhecer o sacrifício que devemos fazer para crescer." O ofício de treinador na Argentina já rendeu ao atual técnico do Boca um título local com o Lanús e um vice da Libertadores contra o Grêmio, em 2017. Almirón também já comandou outros grandes argentinos, como Independiente e San Lorenzo.
Ele percebeu rapidamente que para ter tranquilidade para trabalhar era preciso diminuir espaços e melhorar os números defensivos. Em abril, mês de sua chegada e que ainda teve Ibarra como treinador, foram oito jogos, com oito gols marcados e o mesmo número de gols sofridos. O número já caiu bem em maio, mês de seis jogos e seis gols marcados, mas apenas dois sofridos.
Não bastava apenas equilibrar a defesa, mas variar situações com e sem a bola e diminuir espaços tanto para os times adversários como também para que o próprio Boca se posicionasse melhor ofensivamente. Uma solução foi adiantar o lateral peruano Advíncula, que passou a jogar em uma segunda linha ou com a proteção e liberação para subir de três zagueiros. Advíncula conseguiu criar uma alternativa pela direita para a bola chegar mais ao ataque. Pol Fernandez, Equi Fernandez e Cristian Medina captaram bem a ideia de iniciar as jogadas por dentro, proteger a defesa e manterem a vitalidade de caça no meio. Valentín Barco, que foi desfalque sentido contra o Racing, foi outro que parece ter entendido rapidamente o que deveria ser feito e vem conquistando espaço pelo lado esquerdo, à frente do colombiano Fabra.
Visão de trabalho, entrega e respeito ao que representa o Boca ajudam a explicar os motivos que fizeram o time xeneize avançar para a semifinal continental, mas existe um outro grande fator que serve como pilar da construção que Almirón iniciou: a liderança de seus jogadores de referência.
Não foi por acaso que Marcos Rojo, Chiquito Romero e Cavani foram os jogadores destacados para a entrevista coletiva pós-jogo diante do Racing. São eles que ditam a disciplina de trabalho nos treinamentos, que entendem a temperatura do jogo em campo e que determinam como e quando agir.
O Boca de Almirón está longe de ser um time bonito de ser visto e nem mesmo dá para chamar de eficiente, mas existe um conteúdo que foi capaz de fazê-lo chegar até às semis. Não existem dúvidas sobre a superioridade em assimilação de ideias de jogo, qualidade, variação de esquemas e alternativas em campo. O Palmeiras tem um longo caminho já percorrido e do outro lado apenas os primeiros passos foram dados, mas não dá para negar que o Boca Juniors tem progredido e trabalhado duro para buscar algo maior.
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