Inglaterra vence bem, mas pode muito mais
É flertar com o erro olhar para a seleção da Inglaterra sem compor um cenário. Campeã do mundo em 1966, a Inglaterra teve equipes capazes de repetir o feito, mas sempre esbarrou em uma ou outra desculpa (ou time adversário) que acabou impedindo o sonho. O tempo foi passando e a autoestima foi perdendo terreno para a desconfiança e até mesmo para o pessimismo e os resultados só faziam arranhar a imagem.
O título mundial sub-17, em 2017, mostrou que era permitido sonhar. Um time que tinha Phil Foden e Gallagher, que estão no atual elenco de Southgate, além de Marc Guéhi, Gibbs-White, Jadon Sancho, Smith Rowe e Hudson-Odoi. Com a permissão para o sonho conquistada, a seleção principal foi para a Copa do Mundo de 2018 e ficou entre as quatro primeiras.
A confiança ficou alta na Euro, que foi disputada em 2021. O time jogava bem e foi para a final contra a Itália, mas acabou sendo batida nos pênaltis. Ali o mundo caiu, a desconfiança voltou e a seleção passou a jogar mal.
O estranho é que o grupo de jogadores cada dia que passa rende mais nos clubes. Se antes Pickford era a única opção, Nick Pope e Ramsdale são grandes goleiros e boas sombras para o goleiro do Everton. Mesmo sabendo que Reece James e Chilwell estão fora, os laterais dão conta do recado. Nem vou ficar perso em nomes de meio e ataque. Basta ver o que os times ingleses têm feito, o nível de futebol mostrado. Como eles têm jogado bem e conquistado mais torcedores ano após ano.
De 2017 até hoje, apenas uma final de Liga dos Campeões não teve um time inglês e duas, as de 18-19 e 20-21, foram disputadas por clubes ingleses. A seleção prefere a contramão. Joga mal com frequência e acabou de cair para a segunda divisão da Liga das Nações. Gareth Southgate abandonou o trabalho, o lançamento de ideias novas, a tentativa de repetir o sucesso de seus jogadores nos clubes e abraçou fortemente o jogo feio de resultados. Eu entendo Southgate, mas também entendo que ele poderia entregar mais.
Cenário montado, a Inglaterra passou como líder de seu grupo na Copa do Mundo. Passou marcando 9 gols e sofrendo apenas 2, mas não conseguiu converter a desconfiança do torcedor.
Para o terceiro jogo, Southgate pode contar com Walker e não apostou em uma linha com três zagueiros - função que Walker faz tão bem no clube. À frente da primeira linha de defesa, Rice centralizava, Henderson atuava pela direita e Bellingham caía mais pela esquerda, mas tudo parecia muito intuitivo e ficava confuso. Um lance, ainda no primeiro tempo, bem gerado pela direita com Walker, mostrou Henderson, Foden e Bellingham praticamente na mesma bola... Todo o jogo perigoso se dava pela direita, com Shaw e Rashford implorando por apoio pela esquerda.
O belo gol de Rashford, bem no início do segundo tempo, destravou Gales e fez a confiança voltar. Gales lutava, lutava e lutava. Quase só isso. O segundo gol saiu um minuto após o primeiro. Kane, nada egoísta, caiu pela direira e fez a bola atravessar a pequena área galesa até encontrar Phil Foden e ele marcou.
Southgate fez Kalvin Phillips, Callum Wilson e Alexander-Arnold entrarem. Ele poderia muito bem variar o time e apostar em Walker mais fixo com Arnold, forte no apoio, acionando Foden, mas não. Claro que é justificável pensar que a classificação já estava na mão e que alguns jogadores poderiam ser poupados, mas fica na cara que o mais do mesmo vai continuar sendo a inspiração do treinador.
É incrível como parece ser improvável ver Saka, Foden, Rashford e Kane juntos. Já se tornou impossível sonhar com Walker no trio defensivo que daria campo para Arnold e Shaw abusarem da ofensividade que têm.
A Inglaterra venceu e tem números bem animadores, mas o campo não parece ser tão confiável assim. Abraçado aos resultados, Southgate segue e suas opções conservadoras fazem Guardiola e Klopp parecerem equivocados. A questão é: até quando? Até quando será possível ser conservador?
O próximo adversário será a boa seleção de Senegal, que se redesenhou para jogar sem sua principal estrela e parece alimentar fortemente o desejo de escrever história ano após ano. Southgate deve estar sonhando com uma bola alta na área que poderia mudar o rumo do jogo. Acho que o time pode e deve render mais, mas será que o treinador também pensa assim?
Inglaterra vence bem, mas pode muito mais
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